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É lançada a 2ª edição do "Contos Psicológicos"

É lançada a 2ª edição do "Contos Psicológicos"

CapaO livro “Contos Psicológicos” de John Barroso, lançado em 2ª edição pela Editora All Print, surpreende. A forma narrativa dos contos oscila entre as fissuras da realidade e as camadas do inconsciente, o que parece óbvio torna-se misterioso e os significados mudam a cada nova leitura: nada é o que parece ser.

Os contos são retirados do cotidiano, de situações que passam despercebidas, como um passatempo, um jogo de cartas, até que subitamente, o leitor é capturado sem avisos, abatendo-se sobre ele a força do passado e do presente, coagulada nas cores e texturas do texto. É o fio do conto que nega a linha reta e avança em um tempo líquido,fluindo para as ações das personagens, misturando sensações.

“Raquinho”, “Aventura” e “Insulto”. São três contos de John Barroso a serem lidos.

O primeiro é a história de um menino de treze anos com aparência de dez, subnutrido, vivendo a crueldade dos moleques mais fortes da escola. “Naquela semana, diversão era aterrorizar o Raquinho”. A aparência singela da infância é revelada no poder cruel da natureza humana, oculta como um velho segredo eaprisionada nas camadas sobrepostas do entendimento. O conto penetra na sutileza das relações humanas, desfazendo assim, a ignorância da “pureza intocável” infantil, e tratandoa realidade como ela é: direta e contundente.

Na obra o ser humano é visto como o sermais humano possível das criaturas, e por isso, regado de sensações conflitantes e dúvidas sobre o que sente.

Se em Raquinho a história faz emergir imagens para o mundo externo, no conto “Insulto” a sensação é o da imersão de imagens voltadas para o mundo interno. O narrador desconfiado levanta a possibilidade da traição de sua mulher com um antigoamigo dela,dono da concessionária que lhe financiará o carro novo, ficando ele refém do desejo da esposa e do empréstimo a ser concedido pelo suspeito amigo, sem de fato revelar sua verdadeira dúvida a qualquer um deles ou a si mesmo.“Sua quietude naquela noite fora um insulto, conversas em tom baixo ao celular, e eu olhando aquele corpo quieto que dormia como se eu não estivesse ali...”.

A obra cria um jogo entre o leitor e as narrativas. O cotidiano trivial e ordinário é atacado impiedosamente, cotidiano este quepermeia as relações humanas em seu estado sutil, criando sentido aonde não há sentido. O estilo fluído da linguagem do autor nos coloca em dúvidas sobrea verdade do mundo. Demonstra que ao contrário do que se pensa, a mentira é a verdade, o que resta são as ilusões do viver.Sob uma lente justa podemos dizer que a existência humana não passa de um jogo secreto que desconhecemos.

No conto “Aventura”, novamente o narrador se coloca na condição de espião da sua existência, desta vez ele está sentado ao lado de sua esposa, e é seduzido no restaurante por uma bela mulher anônima, sentada ao fundo com outro homem, sob um pretexto ele se levanta e vai ao banheiro, a mulher desconhecida o encontra a passos atrás, e em silêncio trocam carícias. A ambos é concedido um tempo íntimo e secreto, longe dos olhares da família: jogo de sedução, desejo reprimido ou impulso incontrolável. Do que somos feitos?

O desfecho de cada conto caminha para a continuidade de imagens que o leitor escolhe, dentro de uma sólida estrutura literária, dos substantivos que dão materialidade ao texto, à construção de narrativas que conduzem as personagens para as ações diretas.

São contos que descortinam universos de coisas que não sabemos, e sequer conseguimos imaginar.Essa é a função do conjunto deste livro, nos ligar à verdadeira existência, sem perder a ternura pelo mistério da vida.

“Contos Psicológicos” é uma obra singular que tem seu lugar no mundo da literatura e dos bons contos brasileiros.


Por: Dr. Edson Fernandes. Professor, escritor e autor dos livros “Trama do Destino”, Ed. Porto de Ideias e “Sem Filhos Por Opção”, Ed. NVersos.